Deve o Inferno deve sair de nossa teologia? Uma resposta ao universalismo
- 28 de abr. de 2024
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É muito difícil, para qualquer pessoa, até mesmo o entender que outro ser humano vá passar toda a eternidade no inferno. No entanto, o inferno existe e eu encontro muitas mais razões de mantê-lo em nossa teologia e nossos púlpitos que razões para retirá-lo.
Neste post vou compartilhar com você uma parte de um artigo da revista Christianity Today, onde o presidente de um renomado seminário evangélico se posiciona sobre uma crescente vertente teológica que retirou o inferno de sua teologia — o universalismo. Quero brevemente interagir com o artigo, e terminarei o texto com algumas considerações da relevância da existência do inferno.
Universalismo em poucas palavras é crer que Deus salvará todas as pessoas. Para o universalismo, a salvação oferecida pelo sacrifício de Cristo é universal. Em sua maioria estes não creem na existência do inferno. Como constataremos no artigo que se segue, essa teoria influencia muitos líderes evangélicos e se espalha nas igrejas.
O universalismo, para além de antibíblico, em sua mais simples definição, gera outras conclusões que afastam o crente da revelação da Bíblia Sagrada. Escolhemos esse artigo para que, como líderes, tenhamos a consciência que a crença na existência de um inferno está sendo cada dia mais desacreditada no meio evangélico. Segue-se uma parte do artigo de Richard Mouw[i]:
Eu nem quero ser um universalista. Escuto o oposto de muitos amigos evangélicos: “Eu gostaria de ser um universalista, mas não vejo base bíblica para a opinião de que todos serão salvos no fim.” É reconfortante que aqueles que expressam esse sentimento, geralmente reconhecem que a Bíblia é clara sobre esse assunto. Eu me preocupo, no entanto, pelo seu desejo de que não fosse tão claro.
"Abraçar o universalismo significa perda teológica e espiritual"
— Richard Mouw
O desejo de crer no universalismo nasce geralmente da preocupação por entes queridos. Nós corretamente não nos sentimos ofendidos por aqueles que desejam o gozo eterno para a Heather ou para o Bradley, familiares por quem eles oram ferventemente. Ou talvez eles estejam pensando nos seus maravilhosos vizinhos que não são crentes. Podemos simpatizar com essas preocupações.No entanto, a descrição bíblica do estado eterno de separação de Deus é real. Como N. T. Write escreve no livro Surpreendido pela Esperança, quando estudamos “o Novo Testamento em uma mão e um jornal na outra,” não podemos fugir da conclusão de que a justiça divina requer uma prestação de conta decisiva quanto às gravíssimas injustiças que ocorrem em nosso mundo. Por exemplo, um homem que vende uma menina de 13 anos para o ser escrava sexual, e vive regaladamente do lucro enfrentará a condenação final. Também os assassinos, chantagistas e hipócritas de todo tipo.
Nesses três parágrafos encontramos dois pontos a questionar:
Por que as pessoas creem no universalismo?
A justiça divina só pode ser defendida diante de crimes atrozes?
Por que as pessoas creem no universalismo?
A sugestão do artigo é que a maioria das pessoas abraça o universalismo por uma razão emocional, para sentir qualquer consolo na esperança de que um parente ou amigo não crente encontre ainda um lugar no céu. Ainda que esse sentimento paire nas pessoas, o universalismo me foi apresentado por colocações teológicas e não emotivas.
Alguns tentam prová-lo biblicamente. Outros se baseiam na definição de um Deus que é amor, portanto, não rejeitará a ninguém. Outros, ainda, apoiam sua teologia em uma realidade espiritualista de que todo sofrimento tem a ver com um nível de consciência espiritual e não com o pecado.
A justiça divina só pode ser defendida diante de crimes atrozes?
Richard Mouw vincula, no decorrer do artigo, a punição eterna com pecados horrendos. Por um lado, sua colocação ajuda a encontrar apoio na consciência das pessoas. É natural a expectativa de justiça a crimes atrozes, e, então, a esses “monstros” da sociedade Deus pode enviar para um inferno eterno.
O problema é que essa não é a verdade bíblica. O Deus da Bíblia julga todo o pecado e a injustiça. Ao mesmo tempo, ofereceu ao homem um caminho de redenção, o sangue de Jesus. Todo aquele que crer nele, entrar por ele, e permanecer nele será livre da condenação e viverá aquilo que Deus desejou para sua criação, perfeição eterna com Ele.
O artigo segue:
O mais recente e significante argumento (em prol do universalismo) foi apresentado por David Bentley em seu livro Que Todos Serão Salvos: Céu, Inferno, e a Salvação Universal, o qual tem recebido muita atenção. Hart diz que só o que a Bíblia nos disponibiliza são “várias imagens fragmentadas e fantásticas que podem ser interpretadas de várias maneiras, rearranjadas de acordo com nossos preconceitos e expectativas, e declaradas literal, figurativa ou hiperbólica como dite nosso desejo.” Em outras palavras, o inferno pode não ser o inferno. E, se for, ninguém vai para lá, claro.Hart diz que temos que nos perguntar se um entendimento próprio da natureza humana nos permitiria crer que “essa obstinada rejeição de Deus por toda a eternidade é logicamente possível para qualquer ser racional.” Esse argumento em prol do universalismo se baseia nas pessoas serem sensatas, cedo ou tarde, levando-as à fé salvífica.
Esses dois parágrafos nos ilustram duas coisas:
A existência de literatura que respalde e promova o universalismo; e
Argumentos doutrinários do universalismo.
A existência de literatura que respalde e promova o universalismo
O livro de David Hart mencionado no artigo é recente, publicado em setembro de 2019. Já o livro de ficção cristã A Cabana, escrito por William Paul Young em 2009, tornou-se um best-seller, foi traduzido para outras línguas (inclusive o português) e já transformado em um filme.
Este livro deixa nos leitores uma forte impressão do universalismo, recorrendo a um dos recursos mais potentes da comunicação humana, o drama. Em 2014 Julie Ferwerda publica Erguendo o Inferno: A Doutrina Mais Controversa do Cristianismo Colocada Sob Fogo. Veja parte da descrição deste livro na loja do Amazon online:
Você já considerou as aparentes injustiças, inconsistências e até contradições da doutrina do inferno? Para começar, os pais terrenos amam seus filhos mais do que Deus? Deus pede que você perdoe seus inimigos quando Ele não está disposto a fazer o mesmo? Ser punido para sempre por pecados cometidos em uma vida curta é realmente “justiça”?…
Esse livro de 306 páginas tem uma versão mais resumida e fácil para os leitores que atendem nossas igrejas com somente 120 páginas. Que o sangue de Jesus nos cubra!!!! Os nomes que elogiam esse livro são famosos também, com isso quero dizer que sua influência está se multiplicando no meio evangélico.
Alguns têm escrito diretamente contrário a essa heresia. O maior e talvez mais famoso compêndio foi escrito por Michael McClymond em 2018, intitulado A Redenção do Diabo: Uma Nova História e Interpretação do Universalismo Cristão. Em suas mais de 1300 páginas, Michael reconta a história do universalismo desde os gnósticos até nossos dias, trazendo refutação histórica e teológica às alegações de seus defensores. No entanto, se não ensinarmos nosso rebanho a verdade bíblica, será que resistirão aos questionamentos sagazes do universalismo?
Argumentos doutrinários do universalismo
Quando Hart menciona a impossibilidade de alguém não chegar a crer em Jesus e ser redimido, cedo ou tarte, ele está aludindo a uma crença comum no universalismo de que as pessoas podem alcançar o perdão, portanto salvação, após mortos. “O que distingue muitas dessas doutrinas universalistas é o mecanismo pelo qual Deus restaurará todas as coisas: enquanto uns advogam que todos irão diretamente para o céu após a sua morte (os ultras universalistas), outros defendem uma espécie de purgatório, por onde terão de atravessar um processo de purificação dos seus pecados antes de poderem ascender ao céu.” (https://setemargens.com/uma-historia-do-universalismo-cristao/)
Não é difícil encontrar muitos dos argumentos doutrinários do universalismo na Internet, e infelizmente em alguns púlpitos. Mas gostaria de ressaltar ainda que essa visão está em perfeita harmonia com a sociedade atual. O amor que a sociedade pós-moderna defende é um que reafirma as decisões individuais e que retribui com aprovação tudo que traga “felicidade” ao indivíduo. Esse Deus universalista estará cada dia mais em harmonia com uma cultura pós-cristã, ou com o cristianismo progressivo, o qual tem crescido sorrateiramente.
Deixo-nos as seguintes questões:
Nossos crentes escaparão dessa seta espiritual de heresia?
Que amor nossos crentes escolherão? O amor do Deus da Bíblia do amor do Deus universalista?
Queremos crer que sim, vão escapar, porque conhecem a verdade. Sim, escolherão ao Deus da Bíblia. No entanto, a realidade que vejo onde moro, nos Estados Unidos, é que os crentes estão caindo na armadilha, às centenas.
Por que crer no Inferno é Importante?
Se o inferno não é real, a autoridade bíblica é invalidada.
Se o inferno não é real, o sacrifício de Jesus é invalidado.
Se o inferno não é real, a pregação do Evangelho não faz sentido.
Se o inferno não é real, a salvação em vida é irrelevante.
Em suma, se o inferno não é real, nossa fé não faz sentido algum. Mas o inferno é real e por isso somos ainda impulsionados a pregar o Evangelho, anunciar a porta estreita da salvação, mesmo que cada dia essa missão seja mais desafiante.
É o desejo genuíno de amor pelas pessoas que nos movem a levá-los a Cristo. É devido ao inferno que eles e nós precisamos de Cristo, e o porquê de Ele ter deixado sua glória para ser o perfeito sacrifício por nossos pecados.
Recursos Adicionais:
Artigo escrito pelo Pr. Eronides Da Silva (meu pastor) que ajuda a esclarecer a realidade eterna do inferno; https://www.profmanuelabarros.com/blog/o-rico-e-lazaro-serie-parabolas-de-jesus
Alguns textos bíblicos que evidenciam e afirmam a realidade do inferno na Bíblia.
A palavra inferno aparece 47 vezes na Bíblia (27 no AT, 20 no NT)
“Os ímpios serão lançados no inferno e todas as gentes que se esquecem de Deus.” (Salmos 9:17)
“Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o Juízo;” (2 Pe 2:4)
“E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga” (Marcos 9:43)
“Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.
“Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação.” (João 5:24-29)
[i] “Eu não Sou Um Universalista” Retirado do Artigo Escrito por Richard Mouw, Presidente do Seminário Teológico Fuller por 20 anos à revista Cristianity Today, publicação de março 2023
Nota: Se você encontrou relevância neste artigo envie-nos um comentário. Perguntas e sugestões serão muito bem-vindas.
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